Na década de 80, quando os carros do Grupo B do Mundial de Ralis levavam milhões para as bermas das estradas, o Peugeot 205 T16 foi sem dúvida o grande precursor do sucesso desportivo da marca francesa.
A história do 205 T16 começa em 1981, quando Jean Boillot, presidente da Peugeot, deu luz verde para a criação de um carro de ralis que conseguisse reinventar a marca desportiva do leão faminto de sucessos na competição.
Jean Todt foi nomeado diretor para o projeto que tinha apenas duas premissas básicas: quatro rodas motrizes, fórmula que tão bons resultados garantia à Audi, e uma estética muito inspirada no futuro best-seller da marca, o Peugeot 205, então ainda em fase de desenvolvimento.
Também aqui, a estratégia da Peugeot foi simplesmente única. A ligação entre o carro de ralis e o de série acabaria por ser perfeita, sobretudo na imagem. Já sob a carroçaria, não havia nada em comum entre os dois…
Na conceção do T16, os engenheiros franceses combinaram as melhores caraterísticas das grandes referências da época, condensadas num único veículo – tal como no Renault 5 Turbo, a estética do utilitário original foi respeitada ao máximo, mas deslocando o bloco para uma posição central, o que obrigou a esticar a distância entre eixos em 120 mm; a carroçaria com uma grande tampa traseira que movia até parte do teto para facilitar o acesso ao motor era idêntica à solução usada no Lancia 037; e a tração integral, claro, como no imparável Audi Quattro.
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O motor escolhido foi o compacto e leve quatro cilindros em linha de 1775 cc derivado da nova família XU, com um turbocompressor KKK e 16 válvulas – Turbo16 ou T16. Já a caixa de velocidades com 5 relações derivava diretamente daquela que era usada no Citroën SM.
As 200 unidades de estrada do 205 T16 estavam prontas para passar o teste de homologação da FIA (então FISA) como carro para o Grupo B em abril de 1984, apenas um mês após a apresentação do Peugeot 205 GTi. Essas unidades de série tinham 200 cv, montavam a instrumentação do Alpine A-310 e estavam disponíveis apenas em cinza antracite. A versão de competição EVO tinha 350 cv graças ao aumento da pressão do turbo para 1,4 bar e da taxa de compressão de 6,5:1 para 7,1:1.
Peso-pluma estreia na Córsega
Também era 300 kg mais leve do que o modelo de estrada, pelo recurso a materiais leves, como o kevlar usado nos painéis da carroceria, reduzindo o peso do conjunto até aos 940 kg.
A estreia do T16 acontece em maio de 1984 no Rali da Córsega, com Ari Vatanen e Jean Pierre Nicolas ao volante das duas unidades oficiais. Mas a primeira vitória só chegaria em agosto, com o finlandês a impor-se na sua terra natal, no Rali dos 1000 Lagos. Nesse ano, mais duas vitórias para a Peugeot (em San Remo e o RAC Lombard), mas a verdade é que o 205 T16 ainda não acompanhava o ritmo frenético do Audi Quattro.
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Na temporada de 1985, a Peugeot Talbot Sport apresenta-se reforçada, com Bruno Saby (para asfalto) e Timo Salonen, e um novo carro. Também na Córsega acontece a estreia do EVO 2, evolução do T16, com as suas caraterísticas asas e as saias de dimensões exageradas, menos peso e mais potência. A marca francesa abandona o turbo KKK, substituindo-o por um Garret com uma pressão variável entre 2,6 e 3,0 bar, fornecendo até 550 cv!
Com estas modificações o 205 T16 Evo 2 ficou tão rápido quanto o Audi Quattro, sendo mais versátil. Com Ari Vatanen e Timo Salonen, a Peugeot venceu sete das 12 etapas do mundial, além de um segundo lugar no Rali de Sanremo e da Córsega. Salonen conquistou o título de pilotos e a Peugeot sagrou-se campeã de construtores.
O ano de 1986 foi agridoce para o Peugeot 205 T16 Evo 2, que enfrentava agora a oposição dos Lancia Delta S4 e dos Toyota com o Celica TCT. O francês venceu seis das 13 etapas, o suficiente para revalidar o título mundial. Juha Kankkunen, contratação de última hora para substituir Vatanen, a recuperar do aparatoso acidente na Argentina, vence o campeonato de pilotos.
Nesse mesmo ano seguinte, acabavam os Grupo B no Mundial de Ralis. Além de muito potentes e leves, os Grupo B eram também difíceis de conduzir. Na sequência de alguns trágicos acidentes, a FIA alterou os regulamentos. A decisão colocaria o Peugeot 205 T16 como o modelo mais bem-sucedido na sua curta carreira: 16 vitórias em 26 corridas, dois títulos de construtores e dois títulos pilotos em três temporadas.
De Dakar a Pikes Peak
Após a extinção do Grupo B em 1987, o Peugeot 205 T16 foi adaptado para uma nova vida nas areias do deserto. O objetivo principal da marca do leão era agora vencer o lendário Paris-Dakar e o Peugeot 205 T16 Grand Raid – uma versão com distância entre eixos alongada em 340 mm e equipada com uma variante de 380 cv do mesmo motor – esteve mais do que à altura do desafio. O furioso gaulês venceu a prova rainha do todo-o-terreno em 1987, pilotado por Vatanen, e em 1988, com Kankkunen.
Com Vatanen ainda pudemos ver o T16 em Pike’s Peak (1987), numa versão preparada especificamente para a histórica rampa americana, com um motor de 700 cv que acabaria por falhar com problemas no turbo. Ainda assim, o Peugeot chega ao segundo lugar do pódio, a apenas 7 segundos do Audi Sport Quattro S1 de Walter Rörhl.
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