Um dos mitos que mais se propaga sobre a mobilidade elétrica é que a massificação dos carregamentos de veículos elétricos colapsará a rede elétrica que fornece energia às habitações e indústria.
De acordo com analistas da Bloomberg, isso não acontecerá, pois, o impacto da mobilidade elétrica, mesmo no seu pico máximo de utilização, será uma pequena parte do consumo global de eletricidade.
Para as suas estimativas, a Bloomberg considerou casos reais em diferentes locais. Um dos exemplos mais paradigmáticos ocorre na Noruega, onde 80% das vendas são de veículos elétricos e a frota destes já chega aos 20% na estrada.
E como aumentou o consumo na rede? De acordo com dados do governo norueguês, o aumento do consumo de eletricidade do país foi de apenas em 1,4%. Um consumo de eletricidade onde a climatização e a indústria ocupam maior relevo, e onde a mobilidade elétrica representa uma pequena parcela dos consumos.
Dados da Bloomberg mostram que até o final do ano de 2022 haverá um total de 27 milhões de veículos elétricos no mundo, que juntos exigirão 60 TWh de eletricidade se todos usarem a rede elétrica, e sem contar com os que podem ter instalações com autoconsumo fotovoltaico (que vão crescer cada vez mais).
Parece um número significativo de veículos, mas na verdade representa apenas 0,2% da procura global de eletricidade em 2022. Uma frota que consumiria a mesma energia de uma cidade-estado como Singapura.
Analisando o caso atual da rede pública de carregamento em Portugal, segundo o portal MOBI.Data, constata-se que o consumo simultâneo dos carregamentos nunca foi além de 25% da potência total instalada e reservada para todos os quase 6.000 postos da mesma.
Tendo em conta as previsões para a massificação de veículos elétricos nas próximas duas décadas, os números também não parecem preocupantes, pois as previsões da Bloomberg indicam que até 2040 haverá entre 730 milhões e 1000 milhões de veículos elétricos no mundo, que por sua vez, aumentará o consumo de energia global de eletricidade de 7% a 9%.
Se adicionarmos os veículos mais industriais, como de longo curso ou autocarros, mesmo que carregados exclusivamente pela rede elétrica, a procura total de eletricidade situar-se-ia entre 11% e 15% do total.
A Bloomberg estima até onde poderíamos ir no caso mais extremo, onde entre 90 e 100% dos veículos na estrada serem elétricos até 2050, o que levaria a um aumento do consumo de eletricidade de 27%.
Não podemos esquecer ainda que a implementação gradual da mobilidade elétrica permitirá às empresas de energia atualizar e modernizar as suas redes de distribuição e sistemas de produção, planeando e ajustando estes cenários com ações de incentivo, como o consumo em horas de menos procura (período vazio de planos bi-horários), ao reforço nos sistemas de distribuição locais assim como a massificação do autoconsumo privado e comunitário (CER – Comunidades de Energia Renovável).
Todos estes fatores aumentarão a eficiência e a democratização do ecossistema da produção e consumo de energia, principalmente de fontes renováveis, e no qual os veículos elétricos passam a fazer parte no papel de armazenamento distribuído desta energia.
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