30 junho 2025

Pneus recauchutados: boa ou má opção?

pneus sustentabilidade

Os pneus recauchutados surgiram inicialmente como uma resposta económica à necessidade de substituição de pneus gastos. No entanto, com o crescente foco na sustentabilidade e na redução do impacto ambiental, ganharam uma nova relevância. Em 2025, a economia circular é cada vez mais promovida em Portugal e na União Europeia como alternativa à economia linear, e os pneus recauchutados são um bom exemplo prático dessa transição. Este tipo de produto permite reutilizar componentes que, de outra forma, seriam descartados, contribuindo para a redução do consumo de matérias-primas como a borracha natural ou o petróleo. Ao prolongar a vida útil dos materiais, diminuem-se os resíduos e as emissões associadas à produção de novos pneus.

Mas afinal o que são pneus recauchutados?

Os pneus recauchutados são pneus usados cuja carcaça se encontra em bom estado e pode ser reaproveitada. O processo consiste em remover a camada superficial gasta e aplicar uma nova banda de rodagem através de vulcanização, garantindo a aderência da nova borracha à estrutura existente. Há também recauchutagem integral, que além do piso renova o perfil lateral. Esta técnica é realizada por empresas especializadas e segue critérios rigorosos de qualidade e segurança. Apenas as carcaças que passam em testes específicos são aprovadas para recauchutagem, assegurando que o produto final é seguro e funcional. Este processo é mais comum em pneus de veículos pesados, comerciais, autocarros e máquinas industriais, mas também existe para outros segmentos.

Poupar a carteira e o ambiente

A recauchutagem permite uma poupança significativa quando comparada com a compra de pneus novos. No caso dos veículos pesados, o custo de um pneu recauchutado pode ser entre trinta a sessenta por cento inferior ao de um pneu novo. Esta diferença representa uma vantagem económica importante para frotas e operadores profissionais. Além do impacto financeiro, o benefício ambiental é igualmente relevante. Estima-se que cada pneu recauchutado consome entre setenta a cem litros de petróleo a menos do que um pneu novo, o que representa uma redução substancial no consumo de recursos.

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Só na Europa, a recauchutagem permite poupar mais de um milhão de toneladas de petróleo por ano. A produção de pneus recauchutados também emite menos dióxido de carbono, contribuindo para os objetivos de neutralidade carbónica assumidos por Portugal e pela União Europeia. Para além disso, este setor cria postos de trabalho especializados e dinamiza a economia local, ao mesmo tempo que oferece soluções acessíveis a consumidores e empresas.

Desvantagens dos pneus recauchutados

Apesar das suas vantagens, os pneus recauchutados continuam a ser alvo de desconfiança por parte de alguns condutores, sobretudo no que toca à segurança e ao desempenho. A principal crítica reside na possibilidade de existirem diferenças entre os pneus recauchutados de um mesmo conjunto, já que as carcaças podem ter origens distintas. Um utilizador pode adquirir quatro pneus aparentemente iguais, mas com bases provenientes de marcas diferentes, o que pode originar níveis de conforto ou ruído ligeiramente distintos entre rodas. No entanto, desde que o pneu seja recauchutado por uma entidade certificada e siga as normas em vigor, a sua segurança é garantida. Muitos especialistas defendem que um pneu recauchutado, quando bem produzido e homologado, pode apresentar um desempenho semelhante ao de um pneu novo, sobretudo em contexto urbano ou de utilização regular. A homologação é essencial, pois assegura que o pneu passou em todos os testes exigidos por lei.

Pneus recauchutados em Portugal

Em Portugal, a entidade responsável pela gestão dos pneus usados é a Valorpneu, que tem apostado na promoção da recauchutagem como prática sustentável. Em 2020, foi lançado um microsite dedicado ao tema, com o objetivo de informar o público e combater os preconceitos associados aos pneus recauchutados. O Ministério do Ambiente já integrou este tipo de pneus nos critérios das compras públicas ecológicas, permitindo a sua utilização em veículos do Estado, nomeadamente no setor dos transportes. De acordo com dados da Valorpneu, são recauchutados anualmente mais de trezentos mil pneus em Portugal, atividade que sustenta cerca de quatrocentos postos de trabalho diretos e representa um volume de negócios na ordem dos trinta e nove milhões de euros. A entidade acredita que este número pode crescer com o novo enquadramento legal europeu, que valoriza a economia circular e incentiva o uso de materiais reutilizados.

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Apesar do apoio institucional e das vantagens ambientais e económicas, o setor da recauchutagem enfrenta sérios desafios. Um dos principais obstáculos é a concorrência de pneus novos, sobretudo de origem asiática, que são vendidos a preços extremamente baixos. Em muitos casos, estes pneus novos chegam ao mercado por valores inferiores ao custo de produção de um pneu recauchutado. Esta realidade dificulta a sobrevivência das empresas nacionais de recauchutagem e limita a expansão do mercado. Como consequência, a presença de pneus recauchutados em carros ligeiros tem diminuído drasticamente. Ainda assim, continuam a ser amplamente utilizados em frotas profissionais, veículos comerciais, camiões, autocarros e também na aviação, setor que recorre frequentemente à recauchutagem devido à elevada exigência e custo dos pneus utilizados.

Os pneus recauchutados representam uma alternativa viável para quem procura soluções mais económicas e sustentáveis, especialmente no setor profissional e industrial. A sua utilização contribui para a redução de resíduos, poupa recursos naturais e dinamiza a economia circular. No entanto, para que a sua adoção seja mais generalizada, é necessário um esforço conjunto entre consumidores, autoridades e empresas. A certificação e a informação são essenciais para combater estigmas e garantir a confiança dos utilizadores. Em 2025, optar por pneus recauchutados é, mais do que nunca, uma decisão consciente que conjuga responsabilidade ambiental com vantagens económicas. Apesar dos desafios colocados pela concorrência de produtos importados a preços muito baixos, o futuro da recauchutagem poderá ser promissor se apoiado por políticas públicas robustas e por uma crescente valorização do impacto ambiental das escolhas de consumo.

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