26 junho 2025

Novo Lada Azimut, do Google russo ao preço-canhão

Novo Lada Azimut

Três décadas após o seu último lançamento relevante, a marca russa apresenta um veículo que pretende apagar de vez a imagem de carros "caixa de sapato" da era soviética. O nome não é casual – "Azimut" significa direção, e desta vez, a Lada parece ter encontrado o seu norte.

Desenvolvido sobre a plataforma da Vesta, mas com linhas que evocam claramente o Dacia Duster, o Azimut surge num contexto histórico peculiar: é o primeiro grande projeto da AvtoVAZ após a rutura com a Renault, que, em 2022, vendeu a sua participação de 68% na marca pelo simbólico preço de 1 rublo, abandonando o mercado russo após a invasão da Ucrânia.

Linhas que unem o passado ao futuro

Com medidas generosas de 4,416 metros de comprimento e entre eixos de 2,675 metros, o Azimut apresenta uma frente agressiva com faróis LED slim e grelha em X que imediatamente chama a atenção.

O seu perfil musculado com jantes de 18 polegadas e proteções de plástico rígido transmite robustez, enquanto a traseira premium com luzes em barra LED e detalhes cromados mostra a ambição da marca em competir com modelos ocidentais.

Com uma altura ao solo de 280 milímetros, o Azimut encontra um compromisso interessante entre o conforto urbano e a capacidade de aventura. Apesar do visual contemporâneo, mantém traços da herança Lada: os parachoques reforçados e as linhas retas denunciam a sua vocação para estradas difíceis, provando que a marca não abandonou completamente as suas raízes.

"Google russo" a bordo

O interior do Azimut representa um salto quântico para a marca russa. O painel digital de 10 polegadas domina o cockpit, enquanto o sistema de infotainment desenvolvido em parceria com a Yandex (considerado o "Google russo") e a Sber oferece integração completa com os serviços digitais locais.

O assistente de voz em russo compreende comandos naturais e há opções premium como teto panorâmico, climatização bizona e câmara de 360 graus para facilitar as manobras. Todo este desenvolvimento tecnológico envolveu 1.000 engenheiros durante três anos de trabalho, resultando em impressionantes 996 componentes novos ou radicalmente redesenhados – um feito notável considerando o isolamento que a Rússia enfrenta devido às sanções internacionais.

Combustão em tempos de revolução elétrica

O Azimut chega ao mercado com uma linha de motores a gasolina convencionais que falam muito sobre as prioridades e capacidades atuais da indústria russa.

A base da gama é o conhecido 1.6 litros atmosférico com 120 cv de potência, uma herança direta do velho Niva. Para quem busca um pouco mais de desempenho, há a opção do motor 1.8 litros com 132 cv. A verdadeira novidade virá mais tarde com o prometido 1.6 turbo de 150 cv, que deve trazer um sopro de modernidade à gama.

As opções de transmissão incluem uma manual de seis velocidades para os puristas e uma automática CVT para quem prioriza o conforto no dia a dia. Curiosamente, a versão inicial chega apenas com tração dianteira – uma decisão surpreendente para uma marca com tanto histórico e reputação no mundo off-road.

Preço pode ser um tiro no pé?

Posicionando-se no competitivo segmento C-SUV, o Azimut parte dos 2,5 milhões de rublos (cerca de 28.000 euros) – valor que, curiosamente, o colocaria como proposta interessante nos mercados ocidentais. Mas o que por cá seria considerado até um "preço-canhão" para o segmento em que se insere, transforma-o no Lada mais caro de sempre, representando uma revolução na política da marca.

A diferença salta à vista quando comparado com o mítico Niva, disponível a partir de 1 milhão de rublos (11.000 euros), ou mesmo com o atual topo de gama da marca, o Vesta SW, que oscila entre 1,2 e 2,2 milhões de rublos (13.600 a 25.000 euros). Ao equiparar-se a modelos premium ocidentais no mercado russo, a Lada assume um risco calculado: convencer uma clientela habituada à relação qualidade-preço da marca a dar o salto para um novo patamar.

A produção arranca em 2026 em Togliatti, mas o cenário geopolítico atual desenha horizontes limitados – as sanções internacionais confinam esta aposta maioritariamente ao mercado russo e a alguns poucos aliados, tornando-o num caso singular de automóvel desenvolvido para um mercado específico em tempos conturbados.

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