Carros salvados: que perigos podem esconder

Comprar um carro salvado pode parecer um bom negócio, mas convém perceber o que está realmente em causa.
Em Portugal, considera-se salvado o veículo que, após um acidente, foi classificado pela seguradora como perda total, normalmente porque o custo estimado da reparação excede o valor comercial do automóvel. Nesses casos, o carro pode ser vendido no estado em que se encontra, mas essa condição é obrigatoriamente comunicada ao Instituto dos Registos e Notariado e ao IMT, conforme determina o Decreto-Lei n.º 44/2005.
Se já pesquisou veículos usados no site do Standvirtual, é possível que tenha encontrado o “carro de sonho” a um preço bastante abaixo do esperado. Ao ver as fotos percebe, porém, que se trata de um exemplar acidentado, o que justifica aquele valor de aquisição tão apelativo num modelo recente e com poucos quilómetros.
Nestes casos, o potencial comprador pode ser levado a pensar que compensa reparar o carro numa oficina conhecida ou até por conta própria e, com isso, ainda obter lucro. Essa possibilidade existe, mas exige prudência. Antes de avançar, importa perguntar: porque é que o proprietário não reparou o carro? Porque é que quem está a vendê-lo também não o fez?
A resposta pode ser simples: o custo da reparação é demasiado elevado, mesmo que os danos aparentes sejam apenas um para-choques, um farol ou um guarda-lamas. Por isso, o melhor é pedir um orçamento rigoroso a um profissional antes de assumir qualquer compromisso.
Naturalmente, há quem compre um salvado apenas para aproveitar peças, o que, nesse caso, pode ser um cenário com menor risco. Já quando o objetivo é reparar o veículo para o voltar a colocar em circulação, existe sempre o risco de se optar por reparações rápidas e baratas, que podem comprometer a segurança rodoviária, especialmente se forem feitas sem cumprir os requisitos técnicos do fabricante.
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Carros salvados: o perigo da reparação
Muitos compradores de carros usados evitam veículos com histórico de acidente, mesmo quando foram reparados por oficinas credenciadas. A perceção de que “o carro nunca mais fica igual” é comum e, por precaução, há quem opte por vender a viatura.
Quando um veículo salvado não é convenientemente reparado, pode representar um risco acrescido para a segurança rodoviária, sobretudo se voltar à estrada sem cumprir os critérios técnicos e estruturais definidos pelo fabricante. Esta é uma questão essencial que deve ser ponderada por quem compra um carro sinistrado com a intenção de o recuperar.
O ideal será sempre seguir as prescrições do construtor, utilizar peças de origem e recorrer a métodos de verificação adequados. Quando há danos na estrutura, é necessário realizar medições rigorosas, em banco de ensaio, por laser ou ultrassons, para garantir que todas as cotas da carroçaria coincidem com as especificações de fábrica.
Estas medições não são apenas recomendadas do ponto de vista técnico. Em certos casos, podem ser obrigatórias para que o veículo possa ser sujeito a uma inspeção do tipo B, especialmente quando esteve envolvido num sinistro grave.
Uma reparação mal executada pode afetar diretamente a segurança ativa do automóvel. Por exemplo, numa manobra de emergência, a geometria alterada do chassis pode comprometer a estabilidade e originar uma perda de controlo. Mesmo que o carro pareça visualmente alinhado, podem existir desvios que só se tornam visíveis no comportamento em estrada.
A má ideia dos “enxertos”
As consequências de uma reparação deficiente vão muito além do que se vê à superfície. Um exemplo concreto é a estrutura interna onde a porta do condutor encaixa quando está fechada. Em muitos veículos modernos, esta zona é formada por um único componente estrutural, projetado para garantir a integridade da carroçaria em caso de impacto.
Após uma colisão lateral, pode surgir a tentação de cortar apenas a parte danificada, como a longarina, e substituir só essa secção em vez de montar a peça completa. Esta técnica, vulgarmente conhecida como “enxerto”, compromete a segurança do veículo ao alterar o seu comportamento previsto em caso de acidente.
Testes realizados por construtores indicam que este tipo de intervenção pode afetar diretamente a eficácia da estrutura numa colisão. Pode, por exemplo, fazer a diferença entre conseguir ou não abrir a porta do condutor após um embate frontal. Também pode influenciar o grau de intrusão no habitáculo num choque lateral, reduzindo significativamente a proteção dos ocupantes.
Diferenças que parecem mínimas durante a reparação podem ter consequências graves quando realmente importa.
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Imaginemos agora uma peça estrutural empenada após um embate. Em muitos casos, o profissional de carroçaria opta por aplicar calor e martelar a zona afetada para a desempenar, devolvendo-lhe um formato próximo do original. Esta intervenção altera, no entanto, as características do material. A área desempenada tende a ganhar maior rigidez, o que pode parecer vantajoso, mas na prática reduz a capacidade de absorção de energia em caso de colisão.
Além disso, a aplicação de calor compromete o tratamento anticorrosivo original. A zona sujeita a aquecimento perde a proteção contra ferrugem e, sem uma reposição adequada dessa camada, é provável que o metal enferruje com o tempo, afetando não só a estética mas também a durabilidade e resistência da estrutura.
Embora o preço de um salvado possa ser apelativo, especialmente para quem tem experiência em reparações, é essencial considerar todos os riscos associados. A segurança rodoviária deve estar sempre em primeiro plano, tanto para quem conduz como para todos os que partilham a estrada.
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