16 novembro 2023

Carros novos: por que demoram tanto a ser entregues? Como será no futuro?

Carros novos por que demoram tanto a ser entregues? Como será no futuro?

O setor do comércio automóvel enfrenta uma crise sem precedentes e o efeito tipo bola de neve do impacto demolidor da pandemia viral. O coronavírus parou a indústria e deixou os mercados moribundos. Nas marcas, desligaram-se linhas de montagem, cancelaram-se projetos e foram anulados dezenas de lançamentos.

Wuhan, a cidade no centro do surto de covid-19, na China, parou completamente a produção, mas o epicentro da pandemia deslocou-se rapidamente para a Europa e para a América. O volume de encerramentos foi absolutamente devastador para setor, que ainda não recuperou para os níveis pré-pandemia. A crise estava apenas no início.

Com o fim dos confinamentos, os clientes regressaram aos concessionários para comprar carros… que não existiam para entrega!

Faltam chips para fazer carros novos

Faltam chips para fazer carros novos

Sem automóveis para produzir, as marcas reduziram a procura de componentes críticos, enquanto os sucessivos confinamentos impulsionavam o aumento exponencial do consumo de equipamentos tecnológicos, dos computadores às placas gráficas. No momento em que a indústria automóvel quis voltar a um ritmo normal já não havia capacidade de produção disponível dos fabricantes de semicondutores, que fazem funcionar vários sistemas dos veículos, desde a gestão eletrónica do motor aos assistentes à condução e de infoentretenimento. Os modelos atuais integram centenas destes “chips” e com os “stocks” armazenados a esgotarem-se rapidamente, as marcas voltam a suspender processos de produção.

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Guerra aumenta escassez de componentes

Numa altura em que o setor automóvel estava a recuperar da crise dos semicondutores, a invasão da Ucrânia originou ainda mais problemas relacionados com o fornecimento de componentes importantes ao fabrico de veículos.

Desde logo porque a produção deste tipo de microprocessadores necessita de um gás que tem vindo a ser fornecido (em 90%) pela Ucrânia, e cujo abastecimento foi interrompido. Mas não é tudo. Somem-se as sanções económicas impostas à Rússia. A Rússia e a Ucrânia não são grandes produtores de automóveis, mas são grandes produtores de matérias-primas que são fundamentais para os automóveis.

A Ucrânia era responsável por 7% da produção de chicotes de instalação elétrica. O país é o principal fornecedor de empresas europeias como a Forschner ou a Kromberg & Schubert, a Prettl, a SEBN e a japonesa Yazaki, que entregam milhões de quilómetros elétricos para os sistemas de automóveis, desde a navegação à assistência à travagem.

Com isto, o tempo de espera por um carro novo voltou a agravar-se, mas não só. A expectativa de que também os preços dos automóveis se tornem mais pesados.

Crise não trava eletrificação

Crise não trava eletrificação

Nem tudo são más notícias. A redução significativa nas receitas e nos lucros, devido à diminuição na procura originada pela pandemia que obrigou à paragem na produção e ao encerramento dos concessionários em todos os mercados, não travou o compromisso com a proteção do ambiente. Mas, ainda assim, a expansão de veículos elétricos continua ameaçada por uma cadeia de abastecimento “frágil e volátil”, conclui um relatório da S&P Global Mobility.

A analista aponta como principal preocupação a produção das baterias, dependente de uma cadeia de abastecimento de matérias-primas decisivas de “natureza frágil e volátil”, ameaçada por tensões geopolíticas.

A estes índices a S&P Global Mobility junta os preços crescentes dos metais fundamentais para fazer as baterias (o preço do níquel quintuplicou só num ano). Ao mesmo tempo, considerando que não faltam fornecedores, a sua distribuição geográfica é outro motivo de preocupação – a maioria tem sede na China continental.

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Mas a S&P Global Mobility lembra, por exemplo, que o maior fornecedor de cobalto é a República Democrática do Congo, a braços com uma crise humanitária que afeta mais de 20 milhões de pessoas.

Solução à vista?

As previsões sobre o impacto total de todos os factores no setor automóvel não são os mais otimistas. Não há dúvidas de que a guerra irá continuar a prejudicar as economias e a subida da inflação não facilitará o transporte de mercadorias, por exemplo.

O CEO do Grupo Volkswagen, Herbert Diess, alertou que uma guerra prolongada na Ucrânia poderia ser “muito pior” para a economia das regiões europeias do que a pandemia do coronavírus. A interrupção das cadeias de abastecimento globais “pode levar a enormes aumentos de preços, escassez de energia e inflação”, comentou Diess, em entrevista ao “Financial Times”.

Além de que há ainda uma preocupação crescente com a nova ameaça cibernética. De acordo com os especialistas, os ataques têm crescido em frequência e em gravidade e o seu impacto na cadeia de abastecimento é muito sério. Sejam casos de ciberataques aos fornecedores, nas áreas da energia, transportes/logística, telecomunicações e alimentação. Ou diretamente às empresas de software.

Com tudo isto, quem sofre é o consumidor que tem vindo a comprar os carros mais caros, mesmo a ter de esperar muitos meses pelo seu automóvel.

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