Carros novos: por que demoram tanto a ser entregues? Como será no futuro?

O setor do comércio automóvel enfrenta uma crise sem precedentes e o efeito tipo bola de neve do impacto demolidor da pandemia viral. O coronavírus parou a indústria e deixou os mercados moribundos. Nas marcas, desligaram-se linhas de montagem, cancelaram-se projetos e foram anulados dezenas de lançamentos.
Wuhan, a cidade no centro do surto de covid-19, na China, parou completamente a produção, mas o epicentro da pandemia deslocou-se rapidamente para a Europa e para a América. O volume de encerramentos foi absolutamente devastador para setor, que ainda não recuperou para os níveis pré-pandemia. A crise estava apenas no início.
Com o fim dos confinamentos, os clientes regressaram aos concessionários para comprar carros… que não existiam para entrega!
Faltam chips para fazer carros novos
Sem automóveis para produzir, as marcas reduziram a procura de componentes críticos, enquanto os sucessivos confinamentos impulsionavam o aumento exponencial do consumo de equipamentos tecnológicos, dos computadores às placas gráficas. No momento em que a indústria automóvel quis voltar a um ritmo normal já não havia capacidade de produção disponível dos fabricantes de semicondutores, que fazem funcionar vários sistemas dos veículos, desde a gestão eletrónica do motor aos assistentes à condução e de infoentretenimento. Os modelos atuais integram centenas destes “chips” e com os “stocks” armazenados a esgotarem-se rapidamente, as marcas voltam a suspender processos de produção.
À procura de um carro novo? Encontre-o no Standvirtual Novos
Guerra aumenta escassez de componentes
Numa altura em que o setor automóvel estava a recuperar da crise dos semicondutores, a invasão da Ucrânia originou ainda mais problemas relacionados com o fornecimento de componentes importantes ao fabrico de veículos.
Desde logo porque a produção deste tipo de microprocessadores necessita de um gás que tem vindo a ser fornecido (em 90%) pela Ucrânia, e cujo abastecimento foi interrompido. Mas não é tudo. Somem-se as sanções económicas impostas à Rússia. A Rússia e a Ucrânia não são grandes produtores de automóveis, mas são grandes produtores de matérias-primas que são fundamentais para os automóveis.
A Ucrânia era responsável por 7% da produção de chicotes de instalação elétrica. O país é o principal fornecedor de empresas europeias como a Forschner ou a Kromberg & Schubert, a Prettl, a SEBN e a japonesa Yazaki, que entregam milhões de quilómetros elétricos para os sistemas de automóveis, desde a navegação à assistência à travagem.
Com isto, o tempo de espera por um carro novo voltou a agravar-se, mas não só. A expectativa de que também os preços dos automóveis se tornem mais pesados.
Crise não trava eletrificação
Nem tudo são más notícias. A redução significativa nas receitas e nos lucros, devido à diminuição na procura originada pela pandemia que obrigou à paragem na produção e ao encerramento dos concessionários em todos os mercados, não travou o compromisso com a proteção do ambiente. Mas, ainda assim, a expansão de veículos elétricos continua ameaçada por uma cadeia de abastecimento “frágil e volátil”, conclui um relatório da S&P Global Mobility.
A analista aponta como principal preocupação a produção das baterias, dependente de uma cadeia de abastecimento de matérias-primas decisivas de “natureza frágil e volátil”, ameaçada por tensões geopolíticas.
A estes índices a S&P Global Mobility junta os preços crescentes dos metais fundamentais para fazer as baterias (o preço do níquel quintuplicou só num ano). Ao mesmo tempo, considerando que não faltam fornecedores, a sua distribuição geográfica é outro motivo de preocupação – a maioria tem sede na China continental.
Artigo recomendado: Matrículas até 2007 vão pagar mais IUC em 2024
Mas a S&P Global Mobility lembra, por exemplo, que o maior fornecedor de cobalto é a República Democrática do Congo, a braços com uma crise humanitária que afeta mais de 20 milhões de pessoas.
Solução à vista?
As previsões sobre o impacto total de todos os factores no setor automóvel não são os mais otimistas. Não há dúvidas de que a guerra irá continuar a prejudicar as economias e a subida da inflação não facilitará o transporte de mercadorias, por exemplo.
O CEO do Grupo Volkswagen, Herbert Diess, alertou que uma guerra prolongada na Ucrânia poderia ser “muito pior” para a economia das regiões europeias do que a pandemia do coronavírus. A interrupção das cadeias de abastecimento globais “pode levar a enormes aumentos de preços, escassez de energia e inflação”, comentou Diess, em entrevista ao “Financial Times”.
Além de que há ainda uma preocupação crescente com a nova ameaça cibernética. De acordo com os especialistas, os ataques têm crescido em frequência e em gravidade e o seu impacto na cadeia de abastecimento é muito sério. Sejam casos de ciberataques aos fornecedores, nas áreas da energia, transportes/logística, telecomunicações e alimentação. Ou diretamente às empresas de software.
Com tudo isto, quem sofre é o consumidor que tem vindo a comprar os carros mais caros, mesmo a ter de esperar muitos meses pelo seu automóvel.
Leia também: