ford bronco

Marvin Tortas

25/10/2024

9 min

Testamos o Ford Bronco: Fiel ao nome e ao legado americano?

Nascido em 1966, o Bronco é um dos maiores símbolos da marca da “Oval Azul”, tendo estado em produção durante mais de 30 anos, entre 1965 e 1996. Após uma hibernação de 25 anos, a Ford re-imaginou como poderia ser o desenho original do modelo adaptado aos tempos modernos, e assim nasceu o novo Ford Bronco em 2021, numa reinterpretação perfeita desta corrente do neo-classicismo automóvel.

E numa altura em que cada vez mais as marcas estão a trazer de volta nomes míticos da história automóvel, mas a grande parte deles são utilizados em propostas eletrificadas e totalmente diferentes das originais, o Ford Bronco, por tudo aquilo que representa, poderia ser perfeitamente mais um desses casos, mas não. Este ícone americano atravessou o atlântico e chegou à europa com um imponente motor V6 a gasolina, e manteve intactas quase todas as características off-road do modelo original.

Do original Bronco permanece a grelha com dois enormes faróis redondos, a posição dos indicadores de mudança de direção e a palavra Bronco, ao meio, substituindo a palavra Ford. Um pormenor que chama a atenção, mesmo daqueles que não conhecem a sua história, mas que percebem que este, é um modelo especial.

Mas até na questão histórica o Bronco se manteve igual a si mesmo. E a história diz-nos que o eterno rival do Bronco era, e continua a ser, o Wrangler.

E até na sua construção e dimensões, os dois são muito semelhantes, com ambos a serem, mais do que SUVs, autênticos todo-o-terreno, ao fazerem recurso a um chassis de longarinas, suspensão dianteira de braços sobrepostos, um eixo traseiro rígido, e até caixa de velocidades com «altas e baixas». Além das dimensões quase idênticas, ambos têm também a capacidade de ter painéis de tejadilho removíveis, que lhe permitem circular a céu aberto.

Mas as semelhanças entre estes dois modelos, pelo menos na europa, acabam quando falamos sobre o que está debaixo do capô de cada um deles.

Enquanto o Wrangler está agora apenas disponível com uma motorização híbrida plug-in, o Bronco, contra todas as expectativas perante o que está a acontecer no mercado europeu, presenteia-nos com um suave, potente, generoso e sempre disponível motor V6 sem qualquer ajuda elétrica.

Mas é precisamente este motor o principal problema do Ford Bronco, pelo menos, em Portugal. E não, o motor não tem qualquer defeito, diria até que roça quase o perfeito para este automóvel, e teremos oportunidade de falar sobre ele um pouco mais à frente, porque bem o merece, mas é impossível não falar sobre o Bronco e não abordar o tema da fiscalidade.

Preços

Os preços do Ford Bronco começam nos 53.878€ aos quais temos que somar ISV, e o IVA sobre o ISV, que como sabemos, é uma ilegalidade, mas que Portugal continua a praticar. E é precisamente a soma destes impostos que empurram o preço do Ford Bronco para perto dos 120.000€, antes de somarmos opcionais.

Este imposto, que de resto penaliza severamente os automóveis híbridos convencionais, por exemplo, ao ser calculado com base na cilindrada e nas emissões, penalizam também fortemente o Ford Bronco, que em Espanha, tem um preço final quase 50.000€ mais barato que em Portugal.

Isto torna o Ford Bronco num automóvel altamente exclusivo no nosso mercado, mas é também justo dizer que o interior acaba por lhe fazer jûs.

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Interior

Ford Bronco

É a prova de que nem sempre um automóvel com muito plástico é sinônimo de falta de qualidade. É que apesar da grande maioria das superfícies serem de tato mais duro, não existem quaisquer ruídos parasitas, tudo é muito sólido, e claro, tudo tem um propósito: afinal de contas, este é um automóvel de aventura, e assim torna-se tudo mais resistente, duradouro, e mais fácil de limpar.

Os botões no volante, na zona superior do tablier, ou dos comandos de rádio e climatização, por exemplo, são forrados a borracha, protegendo-os assim da entrada de água, e as robustas pegas de apoio nas laterais do tablier e na consola são muito bem-vindas para ajudar a subir a bordo e para os passageiros se agarrarem quando o percurso se tornar mais acidentado.

O tablier tem um design muito vertical e recebe ao centro o grande ecrã do infotainment, de 12’’, muito fácil de usar, diga-se de passagem, em particular usando as conexões com o nosso smartphone, que pode ser feito através de ligação sem fios.
O painel de instrumentos é híbrido, combinando um velocímetro analógico com informação digital, incluindo dados muito úteis, por exemplo, sobre a distribuição de potência pelos eixos ou os ângulos de todo-o-terreno.

Ainda na consola central, que permite vastos espaços de arrumação, encontramos o seletor de modos de condução, ou como a Ford lhe chama, GOAT mode. Não, não é para metermos o Bronco em modo Cristiano Ronaldo e torná-lo no melhor automóvel de todos os tempos, mas sim é o acrónimo de Goes Over Any type of Terrain, ou em português, para andar sobre qualquer tipo de pavimento.

Ao rodar este seletor podemos accionar um dos seguintes modos de condução: Eco/Normal/Desporto/Escorregadio/Lama-terra/Areia. Os 2 últimos modos accionam a tração integral, com função de bloqueio de diferencial, sendo por isso apenas aconselhadas de usar fora de estrada, para não danificar os pneus, mas sobretudo, a mecânica. Manualmente também podemos escolher o modo de tração do Bronco, isto é, se a tração permanente é em altas, ou baixas.

Quanto ao espaço, o existente na 2ª fila é bastante razoável e amplo, permitindo acomodar 3 adultos, e na bagageira encontramos 471L de capacidade, acessíveis através de um portão bi-partido. Segundo a Ford, em poucos minutos é possível desmontar todos os painéis do tejadilho e das portas, e armazenar todos estes itens na bagageira, nomeadamente as portas, que ao não terem moldura superior, acabam por ocupar muito pouco espaço.

Também na bagageira encontramos uma espécie de “prancha” metálica que podemos puxar da base, para que nos possamos sentar, e apreciar a vista, ou simplesmente a desfrutar de um belo piquenique. A prova de que nenhum pormenor neste Bronco foi deixado ao acaso.

Ao Volante

Ford Bronco

Mas voltemos ao motor do Bronco, que é sem sombra de dúvidas, um dos seus principais cartões de visita: Este V6, com 2700 cc, com dois turbocompressores, um por bancada de cilindros, e que, como dissemos, apesar de não ter nenhum sistema híbrido a auxiliar, debita 335 cv e 563 Nm de binário às 3100 rpm.

Este motor associado à caixa automática de 10 velocidades da Ford, garante que quase nunca o mandamos para fora de pé, e que temos sempre a potência máxima disponível à mercê do nosso pé direito.

É também graças a este pulmão que este verdadeiro off-roader, de mais de 2.3 toneladas, consegue acelerar dos 0 aos 100km/h em apenas 6.7 segundos, e atingir uma velocidade máxima limitada às 100 milhas, ou na europa, 160km/h.

Mas apesar de ser um V6 possante, e do Bronco estar longe de ser um carro aerodinamicamente eficiente, os consumos ficam bastante abaixo daquilo que poderíamos à partida esperar. É na verdade muito fácil registar consumos abaixo dos 12L/100km.

E também pelo facto de ser um motor bastante suave, praticamente sem vibrações, e é sobretudo isso que ganhamos num motor a gasolina face a um diesel, acaba por incentivar a toadas sempre mais calmas.

Não obstante, no ambiente certo, o Bronco continua a mostrar-nos que mesmo estando mais adaptado à selva urbana, não se esquece o propósito para o qual foi criado.

Em Portugal, o Bronco é oferecido com dois níveis de equipamento, este Outer Banks já bastante capaz e o mais extremo Badlands, com uma altura ao solo mais elevada, tração integral permanente, bloqueio de diferencial dianteiro e barra estabilizadora dianteira possível de desconectar, bem como pneus mais dedicados à condução fora de estrada. No entanto, este Outer Banks é mais do que suficiente para (bastantes) aventuras.

Devido aos pequenos para-choques e colocação das rodas nos extremos da carroçaria), os ângulos que este Bronco permite são de 38,1º no ataque, ventral até 21,9º e saída de 31,4º. A passagem por dentro de água pode ir até uma profundidade de 80cm.

Em qualquer uma das versões, é fácil de constatar a verdadeira capacidade do Bronco em despachar caminho, independentemente da estrada que exista pela frente, e não é preciso um cronómetro para ver que o Bronco é mais rápido do que poderíamos necessitar. Mas é igualmente quando aumentamos a velocidade, sobretudo acima do limite legal, que notamos alguns ruídos aerodinâmicos, inevitáveis de mascarar em função do seu formato.

ford Bronco

A associar a todas as competências fora-de-estrada, o Bronco destaca-se também por uma enorme oferta de equipamento tecnológico e ajudas à condução, de onde se destaca o sistema de som premium com a assinatura Bang and Olufsen, que ajuda precisamente a disfarçar o barulho do ar sobre a carroçaria, a qualidade da câmara de marcha atrás, ajudam a “ler” o caminho na cidade, ou fora dela, ou a possibilidade de escolher se queremos utilizar o cruise control adaptativo, ou à maneira clássica, algo que eu muito aprecio, e cada vez mais raro nos dias de hoje.

O Ford Bronco cumpre com tudo aquilo que a marca americana prometeu para este modelo: um todo-o-terreno capaz como sempre, mas mais do que nunca, tanto dentro, como fora de estrada.

A sua imagem retro-futurista, o soberbo motor V6 e uma etiqueta de preço exclusiva, sobretudo, em Portugal, feliz, ou infelizmente, garantem que as unidades a circular nas nossas estradas não serão muitas, tornando-o por isso num automóvel ainda mais especial para quem o aprecia, mas mais especial ainda para quem tiver a vontade e possibilidade de o comprar, mas quem o fizer, certamente não se arrependerá da sua escolha nem por um segundo.

 

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