Sistema de quatro rodas direcionais: como funciona

É importante não confundir quatro rodas motrizes com quatro rodas direcionais: são sistemas diferentes com efeitos distintos na condução.
Ainda assim, dispor de um carro com quatro rodas direcionais, também conhecido como eixo traseiro direcional, permite ao condutor usufruir de maior segurança e, ao mesmo tempo, dispor de um veículo fácil de manobrar, que associa agilidade a estabilidade, sobretudo em curva e em manobras de baixa velocidade.
Cada marca pode recorrer a sistemas diferentes, mesmo dentro do mesmo grupo automóvel. É o caso da Porsche e da Volkswagen. A primeira utiliza um sistema com dois motores elétricos independentes, um por roda traseira, o que permite ajustar o ângulo de cada roda de forma autónoma.
Já a Volkswagen utiliza uma solução mais simples, com um único motor elétrico que comanda ambas as rodas traseiras através de um sistema de barras. Uma abordagem semelhante é usada pela francesa Renault, cujos modelos com eixo traseiro direcional integram pivôs de articulação nos braços da suspensão, combinados com um sistema de direção traseira acionado eletricamente.
Vantagens do sistema de quatro todas direcionais
Mas o que faz na prática? Independentemente do sistema implementado, o que as quatro rodas direcionais permitem é desenhar curvas com maior precisão e garantir um comportamento mais linear, sobretudo a velocidades elevadas.
A baixa velocidade, as rodas traseiras giram no sentido oposto ao das dianteiras, até um máximo de cerca de 5 graus. Isto permite descrever curvas com um raio mais reduzido e manobrar em espaços apertados com maior facilidade. O efeito prático é notório em cruzamentos, curvas fechadas ou parques de estacionamento. Até uma grande berlina passa a comportar-se como um citadino ágil.
Em manobras como uma inversão de marcha, o espaço necessário é significativamente menor. Para o condutor, isto traduz-se num esforço reduzido ao volante e numa sensação de maior controlo, mesmo em cenários urbanos exigentes.
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Já a alta velocidade, o sistema atua de forma distinta. As rodas traseiras passam a virar no mesmo sentido que as dianteiras, ainda que num ângulo mais pequeno. O objetivo é estabilizar o veículo em curva, especialmente em mudanças rápidas de direção, como acontece numa ultrapassagem ou em condução mais dinâmica.
Este movimento coordenado ajuda a “puxar” a traseira do carro para dentro da curva, reduzindo o risco de sobreviragem. Em situações-limite, contribui para que o carro mantenha a trajetória pretendida, mesmo que haja perda de aderência momentânea em alguma das rodas traseiras.
O controlo das quatro rodas direcionais é feito por uma unidade eletrónica dedicada, que recebe dados como a velocidade, o ângulo do volante, a aceleração lateral e outras variáveis fornecidas pela unidade de controlo de estabilidade. Esta gestão automática faz com que o sistema funcione de forma impercetível para o condutor, mas com impacto direto no conforto e segurança. Além disso, como depende de componentes eletrónicos e motores elétricos selados, a manutenção tende a ser simples e de baixa frequência.
Uma questão de moda?
O sistema de quatro rodas direcionais, que é possível encontrar-se referido como 4WS (do inglês “4-wheel steering”), tem história que vai até à era antes da democratização do automóvel, tendo sido utilizada em alguns equipamentos agrícolas ainda puxados por animais.
Porém, nos modelos comercializados em massa, o sistema teve como pioneira a Honda, que no seu Prelude de 1988 apresentava um sistema totalmente mecânico que utilizava um seletor nas barras de pressão traseiras para mover o ângulo das rodas traseiras. Dependendo do ângulo de direção das rodas dianteiras, as rodas traseiras faziam o ângulo na mesma direção ou em sentido oposto.
Depois da Honda, as também nipónicas Nissan, Mazda e Mitsubishi, além da americana Chevrolet, desenvolveram sistemas semelhantes, mas foram melhorando e aperfeiçoando a tecnologia. Enquanto a Honda se ficou por um sistema mecânico, outros fabricantes construíram os seus sistemas com assistências hidráulica e elétrica, criando a possibilidade de haver um efeito consequência que se autogeria.
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Por exemplo, o sistema da Chevrolet permitia que os pneus traseiros girassem até um máximo de 15 graus, exceto se o modo reboque fosse acionado. Nesse caso, o sistema limitaria o virar das rodas traseiras a 12 graus.
No entanto, esta vertente prática das quatro rodas direcionais, que encarecia o preço final do produto, não foi o êxito que se esperava e acabou por entrar em desuso no final da década de 90 do século passado, passando a ser vista como uma moda ultrapassada.
Sistema presente em alguns superdesportivos
Com o tempo, os fabricantes perceberam que o sistema de quatro rodas direcionais poderia ser explorado não apenas para facilitar manobras em cidade ou melhorar a estabilidade em curvas, mas também para extrair mais performance de carros de alta potência. Foi esse raciocínio que levou à sua inclusão em superdesportivos de referência, como o Porsche 911, o Lamborghini Aventador ou o Ferrari 812 Superfast.
A tecnologia também chegou a modelos de luxo mais versáteis, como algumas berlinas premium da Audi, da BMW ou da Mercedes-Benz, onde contribui para uma condução mais precisa, confortável e segura, mesmo a velocidades elevadas.
Na prática, trata-se de uma solução mais leve e eficiente do que a tradicional tração integral, oferecendo vantagens concretas em aceleração, estabilidade e comportamento em curva. É por isso que, atualmente, as quatro rodas direcionais conquistaram o seu espaço, reunindo consenso entre os condutores mais exigentes e amantes da condução desportiva.
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