Porque é que os carros elétricos aceleram tão rapidamente?

É comum verificar, no arranque num sinal luminoso, que um pequeno carro elétrico consegue deixar para trás potentes e sonoros desportivos. É certo que não atingirão uma velocidade máxima tão elevada como os segundos, mas, no momento do arranque, o carro elétrico consegue, regra geral, ser mais expedito que os demais.
Para perceber por que razão isto acontece, vamos antes de mais observar como funcionam as motorizações térmicas e as elétricas:
Processo de aceleração num motor a combustão
Num carro a combustão, pressionar o pedal do acelerador vai dar início a um complexo processo: primeiro, dá-se a abertura da válvula pela qual é admitido o combustível na câmara de combustão, onde se mistura com o ar aspirado; de seguida, um pistão comprime a mistura; depois, uma vela produz uma centelha que vai dar origem à explosão – será esta que fará com que o pistão obrigue a ação da cambota que transformará o movimento vertical daquele em rotacional. É neste ponto que, apoiado pela transmissão, o mecanismo faz com que o eixo das rodas gire.
Como funciona o processo de aceleração num carro elétrico
Num carro elétrico, a pressão sobre o acelerador força a corrente elétrica a gerar um campo magnético que faz girar um rotor que causa a rotação do eixo das rodas.
As descrições acima mostram bem a complexidade do funcionamento dos carros convencionais e a simplicidade dos elétricos. Ou seja, a ordem dada para que o eixo das rodas gire é muito mais direta (e rápida) num carro movido a energia elétrica do que num a gasolina ou a gasóleo. Além disso, uma vez que o processo é mais direto, há menos desperdício de energia, o que torna a disponibilidade de binário muito mais evidente.
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Enquanto num veículo a combustão o binário máximo só estará disponível a partir de determinada rotação (muito raramente abaixo das 2000rpm), num carro elétrico o também designado torque encontra-se à nossa disposição por inteiro a partir das zero rotações.
A simplicidade dos carros elétricos
O funcionamento de um carro 100% elétrico é extremamente simples, sendo que um dos aspetos que caracteriza estes automóveis é o facto de usarem um número limitado de componentes – isto também pode ser lido com uma mais-valia já que há menos coisas passíveis de se avariarem. Ou seja, as idas à oficina serão provavelmente com menor frequência e a experiência dita que os custos de manutenção serão inferiores àqueles associados a um carro com motor de combustão interna.
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Resumidamente, um carro elétrico assenta em quatro estruturas: bateria, inversor, motor de indução e sistema de recuperação de energia, alimentado pela inércia, da desaceleração e da travagem.
A bateria (as de iões de lítio são as mais comuns nos dias que correm) serve para armazenar a energia elétrica que será utilizada para fazer o carro andar. O inversor serve para transformar a corrente elétrica contínua, armazenada nas baterias, na corrente alternada que será remetida para o motor, criando o citado campo magnético que fará o motor de indução se mover. Isto é, a eletricidade aciona os mecanismos do motor elétrico que, por sua vez, faz as rodas girarem e o carro se mover.
Além de converter a corrente elétrica, o inversor também determina a frequência e amplitude da mesma corrente, dependendo estas da pressão exercida sobre o acelerador. Maior pressão irá aumentar a frequência e a amplitude da corrente, o que aumentará o movimento rotacional do campo magnético, fazendo com que o rotor gire mais rápido: o automóvel circulará mais depressa, mas a energia consumida será maior e a carga da bateria extinguir-se-á mais cedo. No fundo, como acontece com um carro movido a combustíveis fósseis: quanto maior a exigência de velocidade, mais combustível irá gastar e um depósito permitirá percorrer menos quilómetros.
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A simplicidade dos carros elétricos também pode ser testemunhada na transmissão, comummente com apenas duas marchas, que permite ao veículo andar para a frente ou para trás. Isto porque, dada a disponibilidade imediata do binário, torna-se desnecessária a desmultiplicação dessa força através de engrenagens.
Por tudo o acima descrito é que os elétricos conseguem acelerar com uma grande rapidez. Mas, atenção: esta aceleração ultrarrápida no arranque não estará patente nos valores apresentados no tempo que o carro demora a ir de 0 a 100 km/h – esta evolução será mais em linha com os seus pares servidos por outros tipos de combustível.
A título de exemplo, o popular Renault Zoe de 80 kW (109 cv) acelera de 0 a 100 km/h em 11,4 segundos, enquanto o Clio de 100 cv, do mesmo emblema, demora 11,8 segundos nessa aceleração – uma diferença curta, mas que, nos primeiros metros, é conquistada pelo elétrico. Depois de embalados, o Zoe não passa dos 135 km/h, enquanto o Clio atinge os 187 km/h. Por isso, apesar de, no arranque, deixarmos os outros veículos para trás, não tardará para que os mesmos nos “apanhem” e ultrapassem.
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