14 julho 2022

Poderá a Toyota perder o título de marca mais ecológica?

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Com o Prius, em finais de 1997, a Toyota antecipou-se aos concorrentes na hibridização, mas o maior construtor de automóveis do mundo atrasou-se no desenvolvimento de elétricos. O primeiro Toyota movido apenas por baterias tem estreia programada para meados deste ano, chama-se bZ4X, e é um SUV desenvolvido a meias com a Subaru. Chegará para suprimir a lacuna na gama, mas ainda a tempo de garantir a manutenção do estatuto de marca mais ecológica?

Na União Europeia, o ponto final na produção de motorizações a gasolina, gasóleo e híbridas está previsto para 2035, conforme proposta já aprovada pelo Parlamento Europeu – o contrarrelógio arrancou, mas, de acordo com um estudo promovido pela InfluenceMap, com base nos dados da IHS Markit, o maior construtor mundial de automóveis pode ter perdido o contacto com o pelotão da frente.

O plano da Toyota

A chegada do SUV compacto 100% elétrico, com que a Toyota vai concorrer no segmento do Opel Mokka-e, Peugeot e-2008 e Hyundai Kauai EV, assinala também a estreia da submarca bz (acrónimo de Beyond Zero, o nome com que o fabricante pretende batizar os modelos sem combustíveis fósseis, a exemplo do que fez a Audi (e-tron), a BMW (i), a Hyundai (Ioniq), a Mercedes-Benz (EQ) ou VW (ID).

O programa de lançamentos da marca japonesa prevê trinta novidades até 2030, incluindo produtos orientados para atividades comerciais e modelos da Lexus. Tudo somado, estimam-se 3,5 milhões de viaturas alimentadas por baterias a partir do início da próxima década, o que representa cerca de um terço do total de matrículas anuais. Plano ambicioso que obriga a realizar investimentos de mais de 70 mil milhões de euros só na tecnologia de baterias para equipar metade dos carros vendidos na Europa até 2030.

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A opinião dos especialistas

Problema: os números dos especialistas são outros. Com base nas projeções, em 2029, só 14% da produção global do construtor japonês dirá respeito a modelos 100% elétricos, o que, a se concretizar, deixará o consórcio liderado por Akio Toyoda muito atrás da concorrência.

“A Toyota continua a apostar fortemente em híbridos com motores de combustão, mesmo em mercados altamente desenvolvidos como o Japão e os EUA, apesar do maior potencial de descarbonização do transporte terrestre de veículos elétricos alimentados por energias renováveis”, explicou Ben Youriev, responsável pelo InfluenceMap.

A aposta nos híbridos e no hidrogénio

O que o estudo não revela é que, confrontada com a obrigação de reduzir os consumos de combustível e as emissões poluentes, ao contrário de todos os que pensam que os automóveis elétricos são o derradeiro objetivo da mobilidade, a Toyota investe numa diversidade tecnológica que satisfaz melhor as exigências dos mercados mundiais. Primeiro, privilegiou o desenvolvimento das tecnologias híbridas, que representaram 63% das matrículas (na Lexus, o impacto ainda é maior: 96%). Depois, somou-lhes os híbridos com recarregamento externo das baterias, e até carros com pilhas de combustível que produzem eletricidade a partir de hidrogénio armazenado a bordo. A Toyota já produziu nove gerações da sua tecnologia de Fuel Cell, embora só a penúltima tenha chegado ao mercado com a primeira geração do Mirai, em 2014.

A ausência de infraestrutura para distribuição de hidrogénio condiciona o desenvolvimento desta alternativa limpa e sustentável aos combustíveis fósseis, mas o fabricante não abdica do ideal. E percebe-se porquê: a Toyota vende 9,5 milhões de carros por ano e tem cerca de 100 milhões de viaturas em circulação nos quatro cantos do planeta, o que aumenta a responsabilidade direta da companhia na descarbonização do meio ambiente.

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Tesla leva avanço, seguida pela Mercedes

No ranking, a Tesla é o construtor que aparece mais bem posicionado. De acordo com os especialistas da InfluenceMap, a marca liderada por Elon Musk beneficiará de pelo menos sete anos de avanço face à concorrência na área da eletrificação. E, nas previsões avançadas no relatório, só a Mercedes-Benz pode almejar ao estatuto de alternativa, com 56% da sua produção total a corresponder a veículos puramente elétricos em 2029. Mais 11% do que a BMW. O número mais surpreendente nestas projeções da InfluenceMap é, talvez, o que diz respeito à performance do Grupo Volkswagen, ocupando a 4.ª posição, com 43% da produção de veículos 100% elétricos no final da década.

A Stellantis (40%) encerra o top5 das marcas mais preparadas para a mudança de paradigma indústria, dos motores de combustão interna dominantes há mais de 100 anos para os motores elétricos, à frente da Ford, da Renault, da General Motors e da Hyundai.

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