Mobilidade a hidrogénio só para setores específicos

Numa altura em que a necessidade de cortar emissões é cada vez mais premente, o hidrogénio é trabalhado pela indústria automóvel, sobretudo por marcas nipónicas. Mas, um grupo de investigadores considera que essa não é a solução – para já.
Um grupo de investigadores concluiu que os combustíveis à base de hidrogénio deverão ser utilizados principalmente em setores que não podem ser eletrificados, como a aviação ou a indústria, excluindo os automóveis da equação. É que, dizem estes especialistas, a produção de hidrogénio permanece um obstáculo à sua democratização, pelo facto de ser “ineficiente, dispendiosa e incerta”. Além disso, os investigadores não veem nenhuma mais-valia para o ambiente na aposta no hidrogénio quando os combustíveis fósseis ainda são usados para a circulação.
Desvantagens dos combustíveis à base de hidrogénio
“Os combustíveis à base de hidrogénio podem ser grandes portadores de energia limpa, mas grandes são também os seus custos e riscos associados”, disse um dos autores do estudo do instituto alemão Potsdam de Investigação sobre o Impacto Climático. Mais: o cientista classifica a ideia de que os combustíveis à base de hidrogénio possam ser uma solução como uma “promessa falsa” – pelo menos ao longo da próxima década, período durante o qual, afirma, se manterão escassos e nada competitivos. Resultado: o facto de ser demasiado dispendioso, pode conduzir a um aumento dos produtos à base de combustíveis fósseis, pondo em causa os objetivos climáticos.
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Assim, o estudo defende que o hidrogénio deverá ser prioritariamente utilizado na aviação de longa distância e na indústria química e produção de aço, e outros processos que necessitem de altas temperaturas e que dificilmente podem ser eletrificados.
O hidrogénio é produzido separando as moléculas da água (em hidrogénio e oxigénio), um processo que necessita de grandes quantidades de energia. Se essa energia for limpa ao resultado chama-se hidrogénio verde. Esse hidrogénio pode depois ser usado para produzir células de combustível, que podem ser armazenadas.
“Mais importante ainda, os e-fuels podem ser queimados em processos e motores de combustão convencionais e assim substituir diretamente os combustíveis fósseis”, explicou outro autor do estudo, ressalvando que, “dada a sua disponibilidade limitada, seria errado pensar que os combustíveis fósseis podem ser totalmente substituídos desta forma”.
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Além disso, o documento defende que é necessário fazer um uso eficiente da eletricidade proveniente de fontes renováveis, o que retira da equação o hidrogénio, já que usar combustíveis à base deste elemento pode consumir até 14 vezes mais energia. Para os investigadores, as contas são simples: conduzir um carro movido a hidrogénio precisa de cinco vezes mais energia do que um que seja elétrico.
No entanto, o que é uma realidade hoje pode transformar-se dentro de 20 ou 30 anos. É que, diz o mesmo estudo, caso haja um progresso tecnológico contínuo e subsídios ao investimento no hidrogénio, os preços para os novos combustíveis de hidrogénio podem baixar até 2050 e tornar-se competitivos até 2040. Mas, o futuro é agora e a urgência climática não pode esperar mais duas décadas. Por isso, conclui o estudo, os carros movidos a eletricidade são a resposta imediata.
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Estas conclusões surgem numa altura em que Portugal se prepara para receber o primeiro carro a pilha de combustível. A Toyota vai avançar com a oferta do Mirai de segunda geração, assim que os postos de abastecimento de hidrogénio (estão previstos três: um a norte, outro na zona da Grande Lisboa e um terceiro a sul) estiverem concluídos, mas o importador da marca prepara-se para apresentar o automóvel ao mercado nacional já este mês.
No entanto, não é expectável que o automóvel atraia, para já, muitos interessados, pelo preço (a berlina deverá chegar por valores acima dos 50 mil euros) e pelos escassos pontos de abastecimento. A seu favor, chega com cinco lugares (a primeira geração tinha apenas quatro) e com capacidade para percorrer até 850 quilómetros com um único abastecimento, que demora em torno de 3 minutos, graças à existência de três tanques.
Outra marca que tem vindo a investir na tecnologia a hidrogénio é a Honda, tendo lançado recentemente o Clarity Fuel Cell, com autonomia para mais de 700 quilómetros, em mercados selecionados – Portugal mantém-se para já fora deste restrito grupo.
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