20 maio 2025

Carros pequenos deviam ter regras menos rígidas? Renault e Stellantis dizem que “sim”

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Os citadinos e os carros pequenos utilitários poderão ser a resposta para democratizar o acesso à mobilidade em geral e aos automóveis elétricos em particular, ao mesmo tempo que podem impulsionar a procura. Mas, acusam os homens-fortes do conglomerado Stellantis e do Grupo Renault, o facto de terem de obedecer às mesmas regras de modelos maiores e mais caros faz com que o preço com que chegam ao mercado não seja apetecível. E se se tentar apresentar uma proposta por um valor adequado, alertaram John Elkann e Luca de Meo, o mais certo é que a baixa rentabilidade acabe por forçar a descontinuidade do produto, o que pode levar ao encerramento de fábricas.

Numa entrevista conjunta ao jornal francês Le Figaro, publicada no início de maio, Elkann e De Meo disseram que países como a Espanha, a França e a Itália deveriam liderar esforços para rever as regras que são aplicadas aos automóveis mais pequenos, uma vez que a procura destes é mais elevada nestes países.

“O que estamos a pedir é um regulamento diferenciado para os carros mais pequenos. Há demasiadas regras concebidas para carros maiores e mais caros, o que significa que não podemos fabricar carros mais pequenos em condições de rentabilidade aceitáveis”, explicou De Meo.

Já Elkann apontou o facto de as vendas de automóveis na UE estarem em níveis desastrosos, chamando a atenção para o facto de o mercado automóvel europeu estar “em queda há cinco anos” e ser “o único grande mercado mundial que não regressou ao seu nível anterior à covid”.

Em 2024, foram comercializados na UE, no no Reino Unido e na Suíça 15 milhões de veículos; em 2019, antes da crise pandémica, tinham sido registados 18 milhões de veículos vendidos. “Ao ritmo atual, o mercado poderá ser reduzido para mais de metade no espaço de uma década”, avisou Elkann, apoiado por Luca de Meo, para quem a solução passa por “oferecer automóveis a preços acessíveis”.

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Por isso, garantem, ter regulamentos específicos para carros mais pequenos seria uma questão “estratégica”. E Elkann vaticinou: “A este ritmo, se a trajetória não mudar, teremos de tomar algumas decisões dolorosas para a nossa base de produção nos próximos três anos.”

É que, aponta De Meo, “entre 2015 e 2030, o preço de um Clio terá aumentado 40 por cento”, sendo 92,5 por cento desse aumento referente à regulamentação. E questiona: “Precisamos mesmo de um sistema de manutenção na faixa de rodagem em carros que passam 95% do seu tempo na cidade?”

A Renault e a Stellantis têm, em conjunto, uma quota de mercado de 30% na Europa, e é para o Velho Continente que idealizam a maioria dos seus produtos. Mas, por causa das regras europeias, “os carros são cada vez mais complexos, cada vez mais pesados, cada vez mais caros, e a maioria das pessoas simplesmente já não os pode comprar”. Uma situação distinta, dizem, de emblemas como a BMW ou algumas marcas do Grupo Volkswagen, mais focados na exportação.

Carros pequenos: 2025 é o ano de todas as decisões

O destino da indústria automóvel europeia está a ser traçado este ano, afirmaram o presidente da Stellantis, John Elkann, e o diretor-geral da Renault, Luca De Meo. “Este ano, pela primeira vez, a China produzirá mais do que a Europa e os Estados Unidos juntos. 2025 é um momento crucial”, afirmou Elkann, lembrando a importância do setor para a economia europeia, ao representar 400 mil milhões de receitas fiscais.

Sobre o carro elétrico, ambos concordam que não se trata de uma solução milagrosa, preferindo insistir na necessidade de tirar os velhos automóveis das estradas europeias. “Temos 250 milhões de veículos velhos e poluentes em circulação. O verdadeiro impacte ambiental passa pela sua substituição por tecnologias diferentes e sustentáveis”, aponta Elkann.

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E De Meo trouxe para o debate a necessidade de encontrar uma nova metodologia de cálculo das emissões: em vez do conhecido “well to wheel” (do poço à roda), uma equação que tivesse em conta todo o ciclo de vida do veículo.

“Não estamos a pedir ajuda, mas que nos deixem trabalhar, inovar e oferecer veículos limpos, acessíveis e desejáveis”, resumiu Elkann.

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