31 julho 2025

Carros autónomos: o que está a ser testado na Europa em 2025

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A condução autónoma tem deixado de ser um conceito futurista para se tornar uma realidade cada vez mais presente em diversas partes do mundo. Na Europa, os testes e avanços tecnológicos nesta área têm vindo a intensificar-se, com vários países e construtores a desenvolverem soluções de mobilidade sem intervenção humana direta. Esta evolução levanta questões práticas, legais e éticas que estão a ser cuidadosamente analisadas à medida que a tecnologia se aproxima da fase de adoção em massa.

Níveis de condução autónoma: em que ponto estamos?

A condução autónoma está classificada em seis níveis, de 0 a 5, conforme a escala estabelecida pela SAE International. O nível 0 representa a condução totalmente manual, enquanto o nível 5 representa a automação total, em que o veículo dispensa qualquer intervenção humana em todas as condições.

Atualmente, a maioria dos veículos vendidos com funções de assistência opera nos níveis 1 e 2, com sistemas como cruise control adaptativo, manutenção na faixa e travagem de emergência. No entanto, já se encontram em fase de testes e implementação controlada veículos com capacidades de nível 3, e até protótipos em desenvolvimento para níveis 4 e 5, sobretudo em ambientes urbanos e corredores específicos.

Testes em curso na Europa

Alemanha, França, Suécia e Países Baixos são alguns dos países mais ativos no desenvolvimento e testes de veículos autónomos. Estes projetos envolvem fabricantes, universidades, empresas de tecnologia e autoridades locais.

Na Alemanha, a Mercedes-Benz tornou-se em 2022 a primeira marca a obter aprovação para comercializar um sistema de condução autónoma de nível 3 (Drive Pilot), disponível inicialmente no Classe S e EQS, em autoestradas e sob determinadas condições de tráfego. Este sistema permite ao condutor retirar as mãos do volante e desviar a atenção da estrada, embora continue legalmente responsável.

Em França, empresas como a Renault, em parceria com startups como a EasyMile e Navya, têm vindo a testar serviços de transporte autónomo de curta distância, sobretudo em zonas industriais ou universitárias. Já em Paris, alguns testes-piloto de táxis autónomos foram autorizados com monitorização constante.

A Suécia, com o apoio da Volvo e da cidade de Gotemburgo, lançou o projeto Drive Me, que testa veículos autónomos em condições reais de trânsito, com o objetivo de recolher dados para uma futura adoção segura e escalável.

Nos Países Baixos, destacam-se os testes com autocarros autónomos e serviços de shuttle em aeroportos e centros logísticos, como o projeto WEpods, que circulou entre Wageningen e Ede, e o sistema ParkShuttle em Roterdão.

Marcas que lideram o desenvolvimento

Várias marcas europeias estão na linha da frente do desenvolvimento de tecnologia de condução autónoma. A Mercedes-Benz e a BMW lideram em funcionalidades de nível 3. A Audi, por seu lado, já apresentou protótipos com capacidades de automação mais avançadas, embora a sua aplicação real ainda dependa de enquadramento legal.

A Volvo continua a apostar fortemente na segurança, integrando tecnologias autónomas nos seus modelos híbridos e elétricos, enquanto a Stellantis (que inclui marcas como Peugeot, Opel, Citroën e Fiat) tem investido em parcerias com empresas de tecnologia para acelerar a integração de software avançado.

Fora da Europa, empresas como a Tesla, Waymo (Google) e Baidu também têm impacto no continente, quer através da presença comercial, quer através de parcerias com governos e centros de investigação.

Barreiras legais e regulamentares

Um dos principais entraves à adoção em larga escala da condução autónoma é a legislação. Cada país europeu possui regras distintas sobre a responsabilidade do condutor, seguros, permissões de teste e utilização pública. Embora a União Europeia esteja a trabalhar na harmonização do enquadramento legal, ainda não existe uma regulamentação unificada que permita o uso de veículos autónomos em todo o espaço europeu.

A legislação também tem de lidar com dilemas éticos, como a tomada de decisões em situações de emergência, bem como a atribuição de culpa em caso de acidente. Além disso, a recolha e processamento de dados dos veículos, necessária para o funcionamento da IA, levanta questões de privacidade e segurança digital, conforme os regulamentos do RGPD.

Infraestruturas e conectividade

Para que a condução autónoma funcione de forma segura e eficiente, é necessário que as infraestruturas rodoviárias estejam preparadas. Isso inclui sinalização horizontal e vertical bem mantida, redes móveis de alta velocidade (5G), sistemas de comunicação entre veículos (V2V) e entre veículos e infraestruturas (V2I).

A Europa tem investido em corredores de teste preparados com estas tecnologias, como é o caso do projeto europeu C-Roads, que inclui troços em países como Áustria, República Checa, Espanha e Eslovénia, com comunicações veículo-infraestrutura em tempo real.

A realidade em Portugal

Portugal acompanha com atenção os desenvolvimentos europeus, embora ainda não tenha projetos públicos de grande escala em condução autónoma em curso. No entanto, empresas tecnológicas e centros de investigação como o CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento) já trabalham em componentes e sistemas relacionados com veículos inteligentes e mobilidade conectada.

O país participa em programas europeus de investigação e acolhe eventos sobre mobilidade do futuro, como o Smart Mobility Summit. A nível legal, Portugal ainda não permite a circulação autónoma sem supervisão humana, mas o debate legislativo está em curso.

Perspetivas para o futuro

À medida que a tecnologia evolui, espera-se que a condução autónoma tenha um papel importante no transporte urbano, logístico e até rural. Serviços de táxis autónomos, entregas com veículos não tripulados e integração com transportes públicos são áreas com forte potencial de crescimento.

Apesar dos avanços, é consensual que a adoção será gradual. A presença de veículos autónomos nas estradas europeias será progressiva, começando por corredores específicos e contextos controlados, com supervisão humana em paralelo. A confiança do público, a robustez da tecnologia e a regulação adequada serão determinantes para o sucesso da transição.

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