Ao volante do Honda Civic Hybrid 2.0: clássico renovado com espírito moderno

O Honda Civic mudou radicalmente ao ser menos radical, mas carrega consigo o peso de ter apenas disponível o motor 2.0 no país da fiscalidade. Será que esta nova abordagem conseguirá manter o Civic como uma referência entre os utilitários?
O Honda Civic é, há décadas, um nome incontornável no mundo automóvel, especialmente no segmento dos familiares compactos. Com a chegada da geração de 2025, a marca japonesa decidiu dar ao seu modelo emblemático um toque mais maduro e sofisticado, trocando o visual radical do passado por um design mais sóbrio e apostando todas as fichas numa motorização híbrida eficiente.
Menos Exuberância, Mais Elegância
O Honda Civic representa uma verdadeira revolução estética... pela via da contenção. Depois de anos a apostar em linhas angulosas, grelhas agressivas e um estilo visual quase futurista, a Honda decidiu inverter o caminho. O novo Civic assume agora uma postura mais sóbria, madura e europeia — um design que, embora menos "gritante", respira sofisticação.
À frente, os faróis mais estreitos e o capô baixo criam um olhar mais focado e refinado. A grelha frontal foi redesenhada com maior subtileza, dispensando o dramatismo para dar lugar à elegância. Já a lateral apresenta um perfil limpo, com uma linha de cintura contínua e fluida, que acentua a sensação de dinamismo mesmo parado.
A traseira abandona os grupos óticos em formato de bumerangue da geração anterior, optando por um visual mais horizontal e harmonioso, reforçando a largura visual do carro. A silhueta de hatchback mantém-se, mas a presença em estrada é agora menos polarizadora e mais consensual, sem perder identidade.
No fundo, este Civic quer ser visto com outros olhos: não o rebelde do bairro, mas o adulto responsável que ainda sabe divertir-se quando a estrada o convida. É uma evolução estética que pode não captar tantos olhares à primeira vista — mas os que capta, convence.
Tecnologia no ponto, conforto à vista: por dentro do novo Civic
Entrar no novo Honda Civic 2025 é perceber, quase de imediato, que o modelo deu um salto geracional no interior. A transformação é subtil nos traços, mas profunda na perceção de qualidade. Tudo parece pensado com mais rigor, mais cuidado, mais intenção.
Os materiais utilizados são, em grande parte, mais nobres e suaves ao toque, transmitindo uma sensação de solidez e durabilidade. O tablier aposta num desenho limpo e horizontal, que transmite amplitude visual e contribui para um ambiente mais sereno e organizado. Um detalhe particularmente interessante é a grelha metálica que percorre o painel em linha contínua, escondendo as saídas de ar e acrescentando um toque premium inesperado.
A ergonomia é outro ponto onde a Honda acertou em cheio. Os comandos estão onde devem estar, e a decisão de manter botões físicos para funções como o controlo de climatização é um verdadeiro alívio num mundo dominado por menus táteis. Este equilíbrio entre digital e analógico torna a utilização diária mais intuitiva e segura.
O painel de instrumentos digital e o ecrã central multimédia oferecem boa visibilidade e resposta, ainda que a integração com Android Auto continue a exigir ligação por cabo, ao contrário do Apple CarPlay, que já funciona sem fios. É uma pequena inconsistência num interior que, no geral, respira modernidade.
Os bancos dianteiros oferecem bom apoio lateral e conforto para longas viagens, e atrás, o espaço para pernas e cabeça é generoso, mantendo o Civic como uma referência entre os hatchbacks familiares. A bagageira, com 410 litros, também não desilude, mantendo-se prática e versátil, graças ao posicionamento inteligente da bateria híbrida sob os bancos traseiros.
Eficiente, mas com emoção: O Civic que anda (e poupa)
É aqui que o Civic 2025 mais surpreende. A motorização híbrida com dois motores elétricos e um motor a combustão garante uma condução eficiente e envolvente. Um motor elétrico move diretamente as rodas dianteiras, enquanto o outro funciona como gerador, recarregando a bateria de 1 kWh posicionada sob os bancos traseiros — sem sacrificar espaço interior.
A condução em cidade revela-se bastante económica, com consumos na ordem dos 5L/100 km, e sobe para cerca de 7.5L/100 km em autoestrada. A suspensão independente às quatro rodas oferece um nível de conforto e controlo acima da média do segmento, mesmo quando o carro é provocado dinamicamente.
O pedal de travão mostra uma transição impercetível entre travagem regenerativa e mecânica, mérito da afinação cuidadosa dos engenheiros da marca. Já as patilhas no volante permitem ajustar a regeneração em quatro níveis, adicionando um toque mais envolvente à condução.
O desempenho também impressiona: os 184 cv permitem acelerações rápidas (0–100 km/h em 7.1 segundos) e o modo Sport, ainda que com som algo artificial, adiciona emoção à experiência.
No entanto, nem tudo são rosas: a insonorização em autoestrada não é brilhante e o ruído da caixa de velocidades quando a estrada se torna mais ingreme torna-se mais audível do que o esperado.
O preço de ser um 2.0 em Portugal
O Civic 2025 entra com o pé direito no mundo híbrido, mas a fiscalidade portuguesa complica-lhe o caminho. O motor 2.0, embora eficiente, é penalizado pelos impostos, em particular o ISV, devido à sua cilindrada, encarecendo assim o preço base do modelo.
Os preços da versão Sport começam nos 43.900€, enquanto a versão Lifestyle, mais equipada, atinge os 47.900€. Valores elevados para o segmento, que colocam o Civic num patamar quase premium, onde a concorrência é feroz e mais diversificada. Comparando com a geração anterior, que oferecia um motor 1.0 mais acessível e equilibrado em termos de proposta, este Civic pode ter perdido parte do seu apelo para quem procura uma solução familiar mais económica.
É um carro maduro, confortável, tecnologicamente competente e muito eficiente. A nova abordagem estética e técnica resulta num produto coeso e agradável de conduzir. Contudo, os preços elevados, em parte devido à fiscalidade, podem tornar a sua compra mais difícil de justificar. Ainda assim, para quem valoriza qualidade de construção, eficiência e prazer de condução, o novo Civic continua a ser uma escolha a ter seriamente em conta.
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