12 junho 2025

Ao volante do Alpine A290: liga-se à corrente

A Alpine vive hoje um dos momentos mais desafiantes da sua longa história de sete décadas, marcada por sucessos desportivos assentes numa fórmula difícil de replicar na era da eletrificação: o baixo peso.

Desde o início, houve quem duvidasse da capacidade do Alpine A290 em destacar-se do modelo em que se baseia, o Renault 5 E-Tech. No entanto, bastam apenas alguns minutos com o A290 — primeiro a observá-lo, depois ao volante — para perceber que se trata de um mundo completamente diferente.

Este é o primeiro modelo da "garagem de sonho" da Alpine, e chegou com a ambição de ser o herdeiro espiritual do lendário Renault 5 Turbo, mesmo que, para muitos puristas, esteja a usar o "combustível errado".

Design e Interior: Um Desportivo à Primeira Vista

Os elétricos nem sempre seduzem os entusiastas dos motores a combustão, mas a Alpine decidiu encará-los de frente. E o A290 arranca sorrisos desde o primeiro olhar, com detalhes inspirados nos carros de rally: óticas em forma de X, jantes de 19 polegadas e vias alargadas em 60 mm face ao Renault 5 E-Tech.

No interior, o ambiente é puramente desportivo. Toda a informação está orientada para o condutor, com pormenores que lembram um monolugar de Fórmula 1. Exemplo disso é o seletor de modos de regeneração com quatro níveis — mais do que no R5 — e o botão “Overtake”, que liberta toda a potência do motor durante 10 segundos.

O seletor de marchas presta homenagem ao Alpine A110, que está prestes a sair de cena, mas cuja alma continua viva neste novo modelo.

Ao volante: um Elétrico Que Faz o Coração Bater Mais depressa

Apesar das semelhanças visuais com o Renault 5 elétrico, conduzir o A290 é uma experiência completamente distinta. A afinação foi feita com foco absoluto na condução: é um carro nervoso, com direção precisa e direta.

O peso continua a ser uma vantagem competitiva. Com 1500 kg — cerca de 200 kg a mais do que um equivalente a combustão — o A290 é significativamente mais leve que rivais como o MINI Cooper SE JCW, com uma diferença de 130 kg.

Essa leveza sente-se sobretudo em curva. A suspensão mantém a carroçaria firme e os pneus Michelin Pilot Sport 5 garantem uma tração impressionante, especialmente quando aquecidos.

A entrega dos 220 cv de potência é progressiva e bem controlada eletronicamente. Evita o "bambolear" comum em muitos elétricos, simulando a resposta de um motor térmico e permitindo saídas de curva fluídas e previsíveis.

Apesar de a potência poder parecer modesta nos dias de hoje, a verdade é que nunca sentimos o A290 como subalimentado. Em cidade é mais do que suficiente, e em pista, permite explorar os limites com confiança — sem ultrapassá-los.

Levar o A290 para a pista é quase obrigatório. As versões mais equipadas oferecem telemetria com medições de forças G, tempos por volta e monitorização de pressões e temperaturas. Até os travões são pensados para uso intensivo: chegam aos 400ºC sem comprometer significativamente a eficácia. Os Brembo de 4 pistões, herdados do A110, são uma garantia de performance e segurança.

Apesar do som artificial projetado pelas colunas não ser o mais emocionante, a qualidade dos acabamentos e a insonorização acima da média ajudam a esquecer a falta do rugido de um motor tradicional.

A autonomia ronda os 380 km em ciclo WLTP, graças à bateria de 52 kWh. Em carregamento rápido (100 kW), é possível passar dos 10% aos 80% em apenas 30 minutos. Já num posto AC de 11 kW, a carga completa demora cerca de 5 horas.

Preços em Portugal

Em termos de preço, a versão GT (de entrada) é cerca de 3.000€ mais cara que o Renault 5 Iconic, o que a torna uma opção exclusiva e acessível para carteiras mais folgadas.

A versão mais potente, GTS, com 220 cv — mais 40 que a GT — custa 44.950€. E, para empresas com contabilidade organizada, é um valor completamente elegível para dedução de IVA e outros incentivos fiscais aplicáveis a viaturas elétricas.

O Alpine A290 é, na sua essência, um verdadeiro desportivo. Curva bem, trava bem e acelera com alma. E mais importante: prova que o prazer de conduzir não morreu com a eletrificação.

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