Ao volante do Alfa Romeo Giulia: quão diferente é dos alemães?

Poucas marcas têm o condão de despertar tantas emoções como a Alfa Romeo, sobretudo para quem gosta de automóveis.Mas mesmo para quem estes não passam de um simples objeto que nos leva do ponto A ao ponto B, é difícil ficarem indiferentes ao design deste Alfa Romeo Giulia, mesmo que, embora com algumas cirurgias estéticas pelo meio, este modelo já tenha mais de 8 anos.
Mas a verdade é que o Giulia não se fica apenas por ser um bom carro no desenho. Também o tenta ser ao volante, e cada vez mais, ao nível da tecnologia. Mas será que este é um concorrente à altura das berlinas alemãs? Ou será que vive numa liga totalmente à parte?
O Alfa Romeo Giulia é a prova de que os automóveis, mesmo sendo objetos inertes, podem estar carregados de emoção e personalidade.
Depois da saudade deixada com modelos como o 159 ou o 166, o Giulia marcou o regresso da marca de Milão a um segmento de que nos últimos anos abdicou, e que tantas saudades deixou, aos alfistas, mas não só.
Com uma volumetria muito semelhante à de rivais como o BMW Série 3, o Mercedes Classe C, ou o Volvo S60, o Alfa Romeo Giulia volta afirmar o design tipicamente italiano, com linhas sensuais e simultaneamente agressivas, que começam numa secção frontal em que a grelha frontal tipo triângulo invertido assume posição destacada, ladeada por ópticas alongadas com uma assinatura de luzes que vai buscar inspiração ao lendário Alfa Romeo SZ os, e um capot picado, com as nervuras a fazer destacar o corpo atlético e dinâmico.
A traseira talvez seja o elemento mais sóbrio do Giulia, mas ainda assim, não lhe falta alma. Termina num perfil ligeiramente acoupetizado do pilar C, que se estende até à tampa da mala. O desenho do grupo ótico alongado lateralmente resiste com eficácia ao passar dos anos, e a duplo escape em conjunto com o difusor fazem notar o carácter desportivo do modelo.
Nesta particular versão Tributo Italiano, a marca vinca o orgulho na sua origem, adicionando uma pintura em dois tons, com o tejadilho em preto, associados às três cores referentes à bandeira “tricolore” italiana: Verde Montreal, Bianco Alfa ou este Rosso Alfa. Bandeira essa que está também presente nas capas dos espelhos deste modelo.
Interior
No interior, esta versão especial oferece também algumas diferenças face a um Giulia “normal”, nomeadamente nos bancos desportivos revestidos em pele preta e com apontamentos em vermelho, assim como um bordado especial nos apoios de cabeça dianteiros, enfatizando a paixão italiana do modelo.
O interior do Giulia, é de resto, mais uma demonstração de personalidade deste modelo, e trata de forma muito distinta os diferentes ambientes, ou se preferirmos, os diferentes passageiros.
Embora a qualidade dos materiais seja idêntica quer à frente, quer atrás, aqui à frente notamos uma abordagem muito mais desportiva, ao passo que ali atrás, os passageiros contam com bancos e acabamentos que primam mais pelo conforto.
Ao longo dos tempos tem havido um salto qualitativo grande na qualidade geral do Alfa Romeo Giulia, que ainda não estando ao nível dos rivais alemães, se tem aproximado muito, e a verdade é que as superfícies macias abundam neste modelo. Desde o tablier, às forras das portas, e até na consola central, onde inevitavelmente acabamos por descansar o joelho em tiradas mais longas.
O sistema de infoentretenimento também sempre foi uma espécie de calcanhar de aquiles do Stelvio face aos principais concorrentes. O ecrã não tem as maiores dimensões e o grafismo pode parecer algo datado, mas em 2021 foi adicionada a função touch, que embora não seja a mais responsiva, acaba por lhe conferir alguma modernidade e a assumir bem o peso dos anos, também muito graças à adição das conectividades com smartphones Apple CarPlay ou Android Auto, embora a ligação seja apenas feita com recurso a um cabo.
No entanto, é quando o passado encontra o futuro que chegamos perto da perfeição, e o facto deste sistema operativo poder ser controlado tanto de forma tátil, como através de comandos físicos na consola central, torna-o essencialmente perfeito para todas as situações: quando estamos parados podemos mais rapidamente aceder às configurações que queremos, mas quando estamos a conduzir, de forma muito mais intuitiva, podemos trocar de menus, mudar a estação de rádio ou simplesmente aumentar ou diminuir o volume do áudio. E quando nos familiarizamos com este sistema Alfa Connect, tudo fica mais fácil. E é uma pena que nem todos os construtores pensem assim…
Tal como o sistema de infoentretenimento, também os comandos da climatização permanecem no tablier com botões dedicados, muito fáceis de aceder e com ótima leitura. É também aqui que, nesta versão Tributo Italiano, podemos ligar o aquecimento dos bancos frontais ou do volante, que ajudam a fazer face a estes dias mais frios de inverno.
Ao volante
A estrada ganha alma quando é guiada pelo coração, e o Giulia tem este dote de tornar qualquer troço de alcatrão num momento de magia. É claro que não é um automóvel perfeito, que tem as suas lacunas, ou como dirão os alfistas, tem o seu carácter, mas é verdade que perdoamos todos os pequenos detalhes muito mais facilmente a um Alfa Romeo do que a uma outra qualquer marca premium.
Até porque este Alfa é feito verdadeiramente para quem conduzir, importa, e é sobretudo focado nisso. O facto de ser confortável, prático, de oferecer uma bagageira com 480 litros de capacidade, tudo isso é um bónus, porque a verdadeira estrela deste automóvel é mesmo o binómio direção/chassis.
O peso do volante é perfeito, e o mais pequeno movimento é refletido imediatamente num movimento das rodas. E sempre que precisamos que o carro rode mais, basta virar o volante que o chassis corresponde, quase como se tratasse de um supercarro.
E quando associamos este binómio a este motor 2.0 a gasolina, com tração integral e 280cv, transforma-se num trinômio perfeito.
É certo que na gama do Giulia encontramos um, talvez mais sensato e racional motor diesel, 2.2 com 160cv, ou 210cv, mas este bloco a gasolina, não sendo tão radical como o V6 que encontramos no Giulia Quadrifoglio, acaba por ser aquele que oferece o melhor compromisso entre agilidade, e usabilidade.
Os 400Nm de binário garantem a força necessária para recuperar velocidade, a caixa automática de dupla embreagem ZF, bem conhecida por, por exemplo, equipar os modelos da BMW, é ótima a despachar relações, e esta tração integral, que privilegia sempre a potência no eixo traseiro garante também que as saídas de curva são sempre muito eficazes, e que a aceleração dos 0 aos 100km/h é despachada em pouco mais de 5 segundos.
Os habituais modos de condução A, D e N também ajudam a transformar a personalidade do Giulia com o simples rodar de um botão. O primeiro, Advanced Efficiency, é aquele que prima pelos melhores consumos, tornando a resposta do acelerador mais lenta, e desacoplando o motor e a caixa de velocidades para que possa rodar em modo roda livre. O N é o pre-definido do Giulia, adequado a uma condução mais despreocupada, onde a performance nunca é posta em causa. E por último, o D, o modo mais dinâmico, melhora a resposta do acelerador e confere ainda mais precisão à direção, garantindo que este executivo fica pronto para enfrentar qualquer curva.
As patilhas que comandam esta caixa de velocidades são em metal, e estão fixas à coluna da direção. E a verdade é que precisamente por serem tão diferentes de tudo o que encontramos no mundo “comum” dos automóveis, damos por nós a querer utilizá-las mais do que seria necessário, e assim a envolvermo-nos muito mais com a condução do que faríamos com outro automóvel.
O único pormenor que acaba por, não diria estragar, mas retirar emoção à experiência de conduzir o Giulia no dia-a-dia, seria mesmo o som “abafado” deste motor, que devido a todas as normas anti-poluentes, mesmo sendo um 2000 a gasolina, que por exemplo, no Hyundai i30 N, ou no Audi S3, são muito mais estridentes, neste caso, fica um pouco aquem.
Claro que, com toda esta potência disponível e com toda a performance à nossa mercê, este motor, se não formos sensatos nos andamentos, não são os melhores para fazer consumos. Ainda assim, e sem qualquer condicionalismo, é muito fácil registar valores abaixo dos 9L/100km, e graças ao depósito com 60L de capacidade, as paragens para abastecimento, para além de serem rápidas, são também menos frequentes.
Preços
Quanto aos preços, e face à concorrência, a Alfa Romeo assume-se claramente com um posicionamento premium, e o produto faz-lhe justiça. Embora em termos tecnológicos a marca italiana não esteja no mesmo nível das alemãs, sem dúvida oferece mais emoção do que qualquer outra proposta no lugar que mais importa neste segmento: o do condutor.
As motorizações são sempre mais potentes do que os equivalentes nas marcas concorrentes, e o preço faz sempre jogo semelhante, com a versão base do Giulia a começar abaixo dos 60.000€. E é também factual que a versão base do Giulia conta já com bastante equipamento de série, ao passo que os alemães, nas configurações base ficam bastante despedidos, e por isso, no final, em termos de preço, o Giulia levará sempre a melhor.
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