A estrada mais famosa da Europa é a…

A portuguesa Estrada Nacional 2 (EN-2) é muitas vezes citada como uma espécie de Route 66, a mítica estrada norte-americana que cruza os Estados Unidos desde a cidade atlântica de Chicago até Santa Mónica, Califórnia, na costa do Pacífico. E o caso não é para menos. Tal como a Route 66, a EN-2, que nasce em Chaves, Trás-os-Montes, e desagua em Faro, no Algarve, também rasga um único país de ponta a ponta, facto que a coloca entre um trio distinto (a outra é a Ruta Nacional 40, na Argentina, que percorre o país de sul para norte, desde a província de Santa Cruz, na Patagónia, até à fronteira com a Bolívia).
Mas não é só por isso que a EN-2 é reconhecida: ela é também a mais famosa estrada europeia. Com um total de 737 quilómetros, atravessa montanhas rochosas, paisagens verdejantes, cruza rios e vales idílicos, serpenteia pelas serras e espraia-se pelas planícies.
Dos montes aos socalcos
O arranque na cidade transmontana, a três passos de Espanha, faz-se com a agrura das montanhas como cenário, num traçado que obriga a não desviar muito os olhos da estrada. É bom que se preste atenção: não muito depois da partida, o luxuriante Vidago convida a uma paragem com direito a passeio pelo parque onde abundam as árvores centenárias.
Para os que apreciam o enoturismo, é indispensável uma longa paragem pelas vinhas que se erguem nos socalcos do Alto Douro, classificado pela UNESCO como Património da Humanidade. Por aqui, há propriedades cheias de história: Quinta do Vallado, Quinta da Pacheca (ou, saindo um pouco de rota, as quintas Casa Amarela ou Santa Eufémia valem a pena o desvio).
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No entanto, caso a decisão não passe por pernoitar na zona, melhor carregar a mala com as caixas de garrafas e deixar as provas para mais tarde — é que ainda há muitos quilómetros a percorrer…
Por terras de Viriato
Cruza-se o rio Douro e diferente paisagem se desenha, ao mesmo tempo que importa rever um pouco de História de Portugal. Foi por aqui que se instalaram os primeiros lusitanos, um dos povos ibéricos pré-romanos que aqui assentaram arraiais desde a Idade do Ferro até à viragem da nova era. E foi aqui que se celebrizou Viriato (Lusitânia, 181 a.C. – Lusitânia, 139 a.C.), que enfrentou a expansão de Roma.
O motivo para os lusitanos escolherem tal poiso está à vista, com as serras esculpidas a granito, onde a pedra era aliada na defesa. Entre os pontos obrigatórios, impõe-se uma visita ao Santuário Nossa Senhora dos Remédios, cujo estilo barroco marca Lamego; atravessar a Porta do Soar, em Viseu; dar um refrescante mergulho na Praia Fluvial de Sangemil, em Tondela; e percorrer os Passadiços de Santa Comba Dão.
Atravessar o Pinhal
A antiga região do Pinhal Interior Norte, extinta em 2013, continua a ser tão exigente como sempre. Estradas sinuosas, ladeadas por farto arvoredo, que nos levam invariavelmente até vales refrescantes. É assim em Vila Nova de Poiares, Vila Nova do Ceira, Góis. E é obrigatória uma paragem no Miradouro da Lousã.
A caminho da albufeira do Cabril, que separa as localidades de Pedrógão Pequeno e Pedrógão Grande, siga atento às placas com os nomes das localidades: a da Picha e da Venda da Gaita são sempre paragens com direito a fotografias para a posteridade (e com muitas reações nas redes sociais).
Ainda antes de chegar a Vila de Rei, é de não perder a oportunidade de ir ao Centro Geodésico de Portugal, que marca o centro do país e que oferece vistas ímpares.
Ir além do Tejo
A EN2 atravessa o rio Tejo e, depois deste, abre-se outro mundo: as montanhas amainam e começam a surgir planícies sem fim. Primeiro, verdes e cheias de água, como em Montargil, onde a praia fluvial oferece momentos relaxantes para esticar as pernas depois de tão longa viagem.
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A seguir, a planície é pintada a dourado com apontamentos de verde seco. Na freguesia de Nossa Senhora do Bispo, no município de Montemor-o-Novo, é de espreitar a Anta Grande da Comenda da Igreja, um monumento funerário megalítico, construído entre finais do IV e meados do III milénio a.C..
Mais à frente, em Santiago do Escoural, é possível conhecer a boa maneira alentejana de receber, sobretudo se sentados à mesa. A partir daqui, é uma reta que parece não ter fim, que atravessa o distrito de Setúbal rumo ao de Beja.
Em Castro Verde, dispense algum tempo para subir ao Moinho de Vento, onde se pode observar como este elemento da natureza, ajudado por uma grande mó com mecanismo de madeira transforma grãos em farinha.
Os olhos no mar
Depois de Almodôvar, é possível descansar da estrada em reta, com curvinhas que nos obrigam a voltar a focar a atenção na condução, o que se torna ainda mais divertido e exigente quando se começa a desenhar a serra do Caldeirão.
São quase 60 quilómetros, classificados desde 2003 como património, em que se sente o valor histórico do caminho: a sinalização, as casas de cantoneiros, as áreas de descanso…
É o Algarve serrano, tão diferente do que se encontra na costa. Mas é precisamente
à beira desta que termina a famosa estrada, ao quilómetro 737, depois do qual podemos pôr os olhos no mar.
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