24 Horas de Le Mans: os 100 anos da corrida histórica

Desde 1923, a maratona motorizada decorre no Circuito de La Sarthe, traçado icónico que combina uma pista permanente com estradas públicas, e que se estende hoje até aos 13,629 km atuais (mais de metade são estradas públicas normais), com 38 curvas. No passado mês de junho de 2023, realizou-se a 91.ª edição do evento, coincidindo com os 100 anos da corrida de resistência mais antiga do desporto automóvel.
Nos anos 20 do século passado, as 24 Horas de Le Mans surgiram como uma competição alternativa aos grandes prémios, mas promovendo a fiabilidade e robustez das máquinas, a somar à velocidade. O antigo formato da reta Muslanne, com mais de 6 quilómetros de asfalto liso, permitia que os carros chegassem a velocidades a rondar os 400 km/h (hoje o troço conta com chicanes como medida de segurança). Ou seja, ao contrário do que acontecia com os fórmula, os construtores em Le Mans eram desafiados a trabalharem no desenvolvimento de automóveis de altíssimas performances, mas muito voltados também para a eficiência. O conceito não poderia estar mais atual.
Estreia muito positiva
No fim de semana de 26 e 27 de maio de 1923, com 20 marcas inscritas, realizou-se a primeira corrida de resistência em Le Mans. Dos 37 automóveis à partida, apenas sete não completaram a maratona. O que significou por si só uma vitória. A maioria concluiu com sucesso o desafio de combinar resistência e velocidade, com claro destaque para as marcas francesas da época. Curiosamente, no lugar mais alto do pódio ficou o Type U3 da Chenard-Walcker, fabricante parisiense desaparecido em 1946.
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Desde 1923, as 24 Horas realizam-se, anualmente, em junho; só em 1956, 1968, 2020 e 2021 a prova decorreu num dos outros meses do verão e, em 100 anos, só 10 não tiveram Le Mans no calendário: em 1936, devido a uma greve geral, e entre 1940 e 1948, por culpa da II Grande Guerra Mundial.
Sangue, suor e lágrimas
Competição única no panorama do desporto, as 24 Horas de Le Mans é uma corrida dura e longa, diferente de todas as outras. E não só porque tem as suas regras próprias, a começar na bandeira da partida, sempre com as três cores da bandeira francesa, até à garrafa de champanhe no pódio para os pilotos abrirem após a vitória e lançarem sobre os fãs. Também a intensidade e a dureza das muitas horas em pista a elevaram a um estatuto especial. Embora não imune a tragédias, como a que aconteceu em 1955, culminando com a morte de 83 espectadores e do piloto francês Pierre Levegh, que se despistou ao volante do seu Mercedes-Benz 300 SLR. O trágico episódio ditou o adeus da marca da estrela à competição, ausência que se prolongou até 1988.
O recreio da Porsche
Nos 100 anos das 24 Horas de Le Mans, algumas marcas francesas deixaram o seu legado, mas nenhuma dominou a corrida-rainha da resistência automóvel como a Porsche. A marca alemã, estreou na competição em 1951 e, desde então, não mais parou de somar. Com mais de uma centena primeiros lugares em categorias, a Porsche comanda também a geral, com nada menos do que 19 vitórias no seu palmarés. O segundo construtor mais bem-sucedido no Circuito de La Sarthe é a Audi (13 vitórias), e só depois a Ferrari (9), Jaguar (7), Bentley (6), Toyota (5), Alfa Romeo e Ford (4), Matra-Simca e Peugeot (3), Lorraine-Dietriech e Bugatti (2).
A primeira “pole position” da Porsche registou-se apenas em 1968, com um 908. E foi só em 1970 que a marca alemã venceu pela primeira vez a geral. Os pilotos Hans Hermann e Richard Attwood inscreviam assim os seus nomes na lista de vencedores, que tem atualmente 140 referências de 20 países e 25 construtores.
O rei de Le Mans e mais recordes
O piloto mais bem-sucedido em Le Mans é o dinamarquês Tom Kristensen, com nove vitórias. Mais três que o belga Jacky Ickx. Dado curioso: o piloto mais velho a terminar a prova foi Dominique Bastien, com 75 anos e 270 dias, em 2021.
Na lista de infindáveis recordes cumpridos na clássica-francesa, destaque-se por exemplo o maior número de quilómetros alguma vez percorridos, pelo Audi R15+ TDI em 2010. Foram 5140,713 km em 397 voltas ao circuito.
Já a volta mais rápida em corrida pertence a Mike Conway, que fez o tempo de 3.17,297 m ao volante do Toyota TS050 Hybrid, em 2019.
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